JUSTIFICATIVA
A mídia desenvolvida, até agora, pretende focalizar o ambiente mediático em que as crianças hoje estão inseridas, localizar tais comunicações numa rede mais ampla de consumo em que eles são integrados e enfatizar a reciprocidade das comunicações de mídia e das ações de comunicação a elas associadas ou interligadas. A ênfase recaiu, portanto, sobre a mídia e as ações a elas associadas. A nossa tentativa é promover um redirecionamento desse olhar. Partiremos da identificação de aspectos importantes do cotidiano da infância na sociedade brasileira contemporânea, contextualizando, a partir desse cotidiano, o relacionamento desse segmento com a mídia e, de modo particular, com a televisão.
O primeiro argumento que gostaríamos de considerar é o de que a referência a um cotidiano infantil contemporâneo no Brasil pensado genericamente constitui uma abstração. A nossa pesquisa indica a existência de cotidianos marcadamente diversos de crianças. Contudo, a existência de uma série de traços característicos da sua configuração partilhados por grupos sociais específicos de crianças, permite, em alguma medida, a identificação de cotidianos particulares vivenciados ao nível de tais grupos. A generalização a partir daí constitui um risco muito alto. Na nossa compreensão, a menção a um cotidiano genérico da criança brasileira, num país com intensa diversidade e contrastes aguçados, não contribui para a sua elucidação.
Nesse sentido, a nossa opção é por considerar vivências de infância diversas, compreendendo a relação da criança com a mídia inserida nessa diversidade. As nossas reflexões não pretendem esgotar, até porque não poderiam os inúmeros fatores a partir dos quais poderiam ser ordenados diferentes cotidianos infantis. A análise se concentra em alguns aspectos básicos definidos, sobretudo pelo ser potencial de esclarecimento as nossas indagações fundamentais acerca da participação da criança nas esferas públicas mediáticas e da contribuição da propaganda na tematização da concepção moderna da infância.
O nosso ponto de partida é a constatação de que a criança ocupa um lugar de destaque na mídia televisiva brasileira. Isso se verifica em função do seu peso no mercado consumidor, da sua autonomia como consumidor, assim como da sua capacidade de influir nas decisões de compra de outros segmentos. A natureza da sua
presença e participação na mídia obedece ainda a regulamentações particulares de cada país que visam proteger a sua imagem e evitar a sua exposição em situações constrangedoras.
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